terça-feira, 11 de julho de 2017




                                              Brasil, Copas e Craques

                                         Em 34, um jogo e nada mais – 2 -

Em 1934, as divergências eram entre os favoráveis ao profissionalismo implantado no ano anterior e os defensores do amadorismo. A CBD mantinha-se fiel ao amadorismo, enquanto a Federação Brasileira de Futebol, recém criada, defendia o profissionalismo e negava-se a ceder os jogadores dos clubes a ela filiados.
O boicote da FBF chegou ao extremo, quando confinou alguns de seus principais jogadores numa fazenda em Matão, no interior de São Paulo, bem longe do assédio de Carlito Rocha, responsável de organizar a seleção brasileira. Sob forte vigilância permaneceram incomunicáveis Gabardo, Junqueira, Lara, Romeu, Tunga.
No Rio de Janeiro, a Liga Carioca de Futebol e a Associação Metropolitana de Esportes Atléticos negaram-se a ceder seus jogadores. Diante de tais fatos, a CBD, contrariando seus princípios, contratou alguns jogadores para formar a seleção brasileira.
Carlito Rocha conseguiu trazer de São Paulo os tricolores Armandinho, Luizinho, Silvio Hoffman e Waldemar de Brito. Do Rio Grande do Sul vieram Luiz Luz e Patesko e do Rio de Janeiro foram contratados Tinoco e Leônidas da Silva.
            Leônidas da Silva discorreu sobre algumas questões que envolveram a seleção brasileira com relação à Copa de 34:
            “Em janeiro de 34, eu e o Domingos voltamos do Uruguai. Os nossos contratos tinham terminado, mas assim que descemos do navio o Vasco nos contratou. Assinei um contrato de 30 contos de réis e mais um ordenado mensal de 800 mil réis.
            Naquela época, o amadorismo no futebol morria definitivamente e tudo era feito em bases profissionais. Mas muitos ainda não entendiam isso. A CBD brigou muito com os clubes na ocasião para arranjar os jogadores que queria. Pagava a peso de ouro, pois não havia convocação como hoje.
            Dois meses depois de ter assinado com o Vasco, o dirigente Luiz Aranha, da CBD, me procurou em casa, oferecendo 30 contos e ordenado de um conto. Aceitei, mas o Vasco e a imprensa não. O Jornal dos Sports chegou a abrir manchete com o título: “Patriotismo por 30 contos de réis”, por causa da minha contratação.
            Finalmente, pegamos o navio que nos levaria a Gênova. Navegamos treze dias num mar terrível e chegamos 48 horas antes do nosso jogo com a Espanha.
            Sentimos, logo de saída, que o campeonato seria da Itália. Mussolini comparecia pessoalmente ao camarote real do Estádio Nacional de Roma para incentivar a Squadra Azzura, toda composta de jogadores comprados e naturalizados, os oriundi, enquanto os torcedores cantavam a Gioveneza, canção-símbolo da nova Itália fascista.
            Ante aquele ambiente de extrema exaltação ficamos esmagados. Grande número de torcedores nos chamava de “faccetas neras”, termo que usavam para chamar os etíopes, contra quem iriam combater no começo da Segunda Guerra.
            O nosso time tinha sido escalado na viagem. A maioria entrou em campo, contra a Espanha, ainda sentindo o balanço do mar. Perdemos por 3 a 1. Nosso gol foi feito por mim, aos 11 minutos do 2º tempo. Foi apenas um gol de honra. Fomos desclassificados ao perder esse primeiro jogo”. (declarações à Revista Fatos e Fotos – edição especial de 11 de junho de 1970).
Com a desistência do Peru, no grupo sul-americano, os brasileiros se classificaram sem jogar. Participaram do mundial da Itália, além dos donos da casa, Brasil, Alemanha, Argentina, Áustria, Bélgica, Egito, Espanha, Estados Unidos, França, Holanda, Hungria, Romênia, Suécia, Suíça e Tchecoslováquia.
Após doze dias de viagem a bordo do navio “Conte Biancamano” a delegação brasileira em companhia dos espanhóis, que embarcaram em Barcelona, chegou a Gênova.
O sistema de disputa era eliminatório e o sorteio apontou a Espanha como adversária do selecionado brasileiro. Perdemos por 3 a 1 e fomos eliminados no dia 27 de maio, em Gênova. Iraragorri abriu a contagem de pênalti aos 18 minutos, no Estádio Luigi Ferraris. Langara, o grande artilheiro espanhol, marcou o segundo gol aos 27, terminando o 1o tempo com a vantagem espanhola por 2 a 0. Leônidas fez o gol brasileiro no famoso goleiro Zamora, aos 11 minutos da etapa final, e novamente Langara balançou a rede brasileira aos 32.
O Brasil teve chance de empatar o jogo quando o árbitro invalidou um gol de Luizinho aos 14 minutos do 2o tempo e de virar o placar nos pés de Waldemar de Brito que perdeu um pênalti, defendido por Zamora, aos 25 minutos da fase final.
           
 
Tinoco e Leônidas jogadores contratados pela CBD para a disputa do mundial de !934
 
 
Seleção brasileira antes de uma partida amistosa com a mesma escalação que perdeu para a Espanha: a partir da esquerda, Martim, Pedrosa, Sylvio Hoffman, Tinoco, Luiz Luz, Canali, Armandinho, Waldemar de Brito, Leônidas, Patesko e Luizinho    
 
 
 
Leônidas por ocasião da Copa de 1934. Ele foi o autor do único gol brasileiro no mundial
 
 
A manchete do Correio Sportivo faz alusão à derrota do Brasil diante da Espanha 
 
            Luiz Vinhais, técnico que conseguiu duas vitórias sobre os uruguaios em 1931 e 32, por ocasião da disputa da Copa Rio Branco, escalou diante da Espanha: Pedrosa (Botafogo), Sylvio Hoffman (CBD) e Luiz Luz (CBD); Tinoco (CBD), Martim Silveira (Botafogo) e Canalli (CBD); Luizinho (CBD), Waldemar de Brito (CBD), Armandinho (CBD), Leônidas da Silva (CBD) e Patesko (CBD).
No dia 10 de junho de 1934, em Roma, a Itália, ganhou da Tchecoslováquia por 4 a 2 e conquistou o titulo de campeã mundial.