segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

40 anos da "máquina" do Dr. Horta


40 anos da “Máquina” do Dr.Horta

                 Após o Fluminense ocupar o 5º lugar no campeonato estadual e a 24ª colocação no brasileirão, em 1974, assumiu a presidência do clube das Laranjeiras o Juiz de Direito Francisco Horta. Seu objetivo era formar um grande time que projetasse o nome do clube nacional e internacionalmente.

 

                 Logo no primeiro momento de sua gestão, Horta foi buscar no Corinthians o fora de série Roberto Rivelino. A fim de formar uma equipe de alto nível técnico, foram contratados outros bons jogadores: o meio campo Zé Mário que era reserva no Flamengo; o ponta-esquerda Mário Sérgio, do Vitória da Bahia e o zagueiro Pescuma.

 

                 Com estas quatro contratações, a “máquina” tricolor versão 75 estava montada com os remanescentes do time campeão de 73 e mais a presença de Edinho, grande revelação tricolor, que subiu dos juvenis para os profissionais. O atacante Gil, que iniciara a carreira no Cruzeiro, veio do Vila Nova, de Nova Lima, e chegou às Laranjeiras, no final de 73. Com os milimétricos lançamentos de Rivelino, as arrancadas de Gil passaram a ser uma preocupação constante para as defesas adversárias.

                

                  Por indicação do supervisor José Bonetti, o primeiro técnico da “máquina” foi Paulo Emílio que substituiu Carlos Alberto Parreira. Bonetti tomou conhecimento do bom trabalho realizado pelo treinador à frente da equipe da Desportiva Ferroviária, de Vitória, durante dois anos e dois meses, e o trouxe para o Fluminense. Parreira e Sebastião Araújo eram os responsáveis pela preparação física.

 

                 Em pleno sábado de carnaval, no dia 8 de fevereiro de 1975, para muitos seria pouco provável que mais de 40 mil torcedores compareceriam ao Maracanã. Porém, era a estreia de Rivelino com a camisa tricolor e contra seu ex-clube. Os torcedores do Fluminense vibraram com os novos contratados e, especialmente, com Rivelino que brindou o público com três gols. Gil marcou o quarto na vitória por 4 a 2 diante do Corinthians.

 

                 Outro cracaço contratado pelo Dr. Horta foi Paulo César Caju que atuava no futebol francês. O jogador mereceu também uma estreia especial. O Fluminense enfrentou e venceu o Bayer de Munich, no Maracanã, por 1 a 0.
 
 

 

 – Acompanhado do Supervisor José Bonetti, o grande Rivelino conhece as dependências do clube.

 
 – Paulo Emílio foi o primeiro técnico da “máquina” tricolor.

 
 – A “máquina” versão 1975: em pé, Félix, Toninho, Silveira, Zé Mário, Assis e Marco Antônio; agachados, Cafuringa, Pintinho, Manfrini, Rivelino e Paulo César.

 
 – No dia 1º de junho de 1975, em partida válida pelo campeonato estadual, Rivelino marcou um gol que ficou na história do Maracanã. Após aplicar em Alcir o drible elástico, Riva invadiu a área do Vasco e chutou no canto esquerdo do goleiro Andrada.

 
 - Rivelino, a grande estrela da “máquina” tricolor, é carregado por Gil e Félix após a partida diante do Botafogo, em 17 de agosto de 1975. O Fluminense perdeu por 1 a 0, mas conseguira garantir o título de campeão estadual pelo saldo de gols no Triangular Final, disputado com o Botafogo e o Vasco. Gil, de roupa comum, não jogou sendo substituído por Cafuringa.

 
 – A charge de autoria de Kleber Guimarães, idealizador, e Rubens A. Sixel, desenhista, retrata a “máquina” tricolor versão 1975.
 
 
 
 – A estreia de Rivelino não poderia ter sido melhor. O tricolor carioca ganhou por 4 a 1 e Rivelino marcou três gols. Rivelino vibra após a marcação de um de seus gols e Gil se aproxima para abraçá-lo.

sábado, 19 de dezembro de 2015

Fausto, a "Maravilha Negra"


                                        Fausto, a “Maravilha Negra”

                                                                                                                                   

Quando, na primeira quinzena de julho de 1930, a delegação brasileira chegou a Montevidéu a bordo do navio Conte Verde, desembarcava com seus companheiros o codoense Fausto dos Santos. Na capital uruguaia aquele negro esguio encantaria a imprensa e a torcida uruguaias com seu extraordinário futebol.

A cidade de Codó fica no interior do Maranhão ao longo da Estrada de Ferro São Luís-Terezina. Lá nasceu Fausto dos Santos em 28 de fevereiro de 1905.  As dificuldades enfrentadas pela família numa região pobre reforçavam o desejo de vir para o Rio de Janeiro.

Com vinte e um anos, em 1926, os torcedores cariocas passaram a conhecer o jogador Fausto.  O meia-direita do time amador do Bangu, nos campeonatos cariocas de 1926 e 27, mostrava que era bom de bola. Porém era mais conhecido pela sua vida boêmia. 

Tinoco, um de seus muitos amigos de jornadas noturnas, jogava no Vasco da Gama e sempre insistia para Fausto vestir a camisa preta com a cruz branca do lado esquerdo do peito do clube de São Januário.  Os principais argumentos eram que no Vasco ele ganharia fama e Bangu era muito distante. Em 1928, Fausto cedeu aos apelos do companheiro e se transferiu para o Vasco.

No ano seguinte, o Vasco sob o comando do inglês Harry Walfare, ex-jogador do Fluminense, vencia o Torneio Início e o Campeonato Carioca. Vasco e América decidiram o título numa série melhor de três. Fausto, agora, de centromédio era o armador das jogadas e principal referência do esquema tático vascaíno. Após dois empates, 0 a 0 e 1 a 1, o Vasco goleou o América por 5 a 1 e se sagrou campeão carioca de 1929. O inesquecível time campeão jogava com Jaguaré, Brilhante e Itália; Tinoco, Fausto e Mola; Paschoal, Oitenta e Quatro, Russinho, Mário Matos e Santana.

As grandes atuações de Fausto o levaram às seleções carioca e brasileira. No mesmo ano do título carioca, várias equipes estrangeiras estiveram no Brasil. Entre elas o Ferencvaros da Hungria. No dia 10 de julho de 1929, no Estádio do Fluminense, a seleção brasileira vencia os húngaros por 2 a 0 gols de Petronilho e Feitiço. Fausto vestia pela primeira vez a camisa da seleção.

A CBD preparava-se para o Campeonato Mundial do ano seguinte, no Uruguai. A comissão técnica da seleção era exclusivamente de cariocas, fato que gerou protestos da Associação Paulista de Esportes Atléticos. A reivindicação era a inclusão de pelo menos um paulista na comissão. Como a CBD manteve seu ponto de vista, a APEA não cedeu seus jogadores. O único paulista a integrar a seleção foi Araken Patuska em litígio com o Santos.

Fausto seguiu com a delegação brasileira e na capital uruguaia atuou contra a Iugoslávia e a Bolívia. Suas duas notáveis exibições extasiaram a crônica esportiva e o público uruguaios. Os jornais estampavam manchetes referindo-se a Fausto como a “Maravilha Negra”.

O Brasil perdeu para a Iugoslávia por 2 a 1 e venceu a Bolívia por 4 a 0. Porém, a vitória iugoslava diante dos bolivianos por 4 a 0 tirou o Brasil do mundial. Apesar da eliminação brasileira, o futebol de Fausto estava consagrado.

Em 5 de setembro de 1931, na véspera da partida contra o Uruguai, no campo do Fluminense, pela Copa Rio Branco, Fausto recebeu a notícia do próprio médico da CBD que não jogaria.  Uma forte gripe o deixara de cama por vários dias no dormitório de São Januário. Eram os primeiros sintomas da tuberculose. A vida boêmia deixava suas marcas.

Seu futebol continuava o mesmo, mas as frequentes gripes impediam que suas participações nos jogos não fossem constantes.  Em 1931, o Vasco realizou uma excursão a Europa, jogando na Espanha e em Portugal. A Europa conheceu de perto a “Maravilha Negra”. No final da temporada, em Lisboa, chegou ao conhecimento do chefe da delegação do Vasco que Fausto e Jaguaré tinham assinado contrato com o Barcelona.

Naquela época o preconceito existia com mais intensidade e Fausto e Jaguaré tornaram-se alvos de críticas ofensivas por parte da imprensa. A resposta dos dois eram  atuações que se transformavam em grandes vitórias para o Barcelona.

Poucos dias antes de uma excursão, Fausto estava acamado com muita febre e tossindo muito. Seu estado de saúde impedia que viajasse. A diretoria do clube espanhol o multou. Depois da derrota para o time húngaro do Ujpest por 4 a 0, Fausto e alguns companheiros foram apontados como culpados. Esses fatos motivaram a saída de Fausto do Barcelona.  O destino foi o Young Fellows da Suíça, no início de 1933. A permanência no futebol suíço durou apenas dois meses.

Já no Brasil, depois de resolver as questões contratuais com os espanhóis e suíços, Fausto retornava ao Vasco da Gama. No campeonato carioca de 33, ano da implantação do profissionalismo, Fausto não atuou como nos velhos tempos. No ano seguinte, ao lado de grandes craques, como Domingos da Guia e Leônidas da Silva, o maravilhoso futebol de Fausto voltou a brilhar.

O Vasco conquistou o campeonato carioca de 1934 com um time formado por jogadores de alta categoria: Rei, Domingos e Itália; Tinoco, Fausto e Mola; Orlando, Leônidas, Gradim, Nena e Dallessandro. O time vascaíno terminou a competição com a vantagem de quatro pontos sobre o São Cristóvão, vice-campeão.

Fausto não se afastava da boemia e as gripes eram mais frequentes. A ausência na Copa de 34, na Itália, não foi por motivo de saúde e sim porque o Vasco, cujos jogadores eram profissionais, não tinha o reconhecimento da CBD.

No dia 24 de fevereiro de 1935, em São Januário, a seleção brasileira derrotou o River Plate da Argentina por 2 a 1, Fausto no vestiário sentiu fortes dores no peito que se estendia pelo corpo.

Consciente do mal que o acometia, Fausto continuava a não seguir os conselhos médicos. Passou a fazer segredo da doença e tocar a vida normalmente. O fôlego começou a faltar nos jogos e ele procurava se poupar no início para correr no final ou fazia o inverso.

 Em maio aceitou a proposta do Nacional e viajou para Montevidéu. A permanência na terra que o denominou de a “Maravilha Negra não durou mais do que sete meses. Seus companheiros começaram a reclamar, porque Fausto não corria o tempo todo.

Quando retornou ao Brasil vários clubes se interessaram em contratá-lo. Até resolverem quem teria direito sobre ele por questões contratuais, Fausto ficou sem poder jogar. Flávio Costa, admirador de seu futebol, tanto insistiu que o Vasco acabou liberando o jogador para o Flamengo.

Agradecido à diretoria do Flamengo, Fausto se afastou um pouco da vida boêmia. Todavia, no campo sua condição física não lhe permitia correr o tempo todo. Seu sistema nervoso abalado já há algum tempo o levava a criar casos com os árbitros e ser expulso em vários jogos.

Em fevereiro de 1937, José Bastos Padilha, presidente do Flamengo, contratou o técnico húngaro Dori Kruschner. Profissional experiente, logo percebeu as limitações de Fausto sem deixar de reconhecer suas virtudes técnicas. O jeito era tirá-lo do meio campo e recuá-lo para a zaga onde jogaria na sobra e correria menos. Fausto influenciado pelas más línguas achou que o húngaro o considerava acabado para o futebol.

Nos treinos, Fausto desobedecia às instruções de Kruschner, avançava para armar o jogo e deixava o buraco na defesa. O fato se repetia a cada treino até o dia em que o técnico comunicou o fato a José Bastos Padilha. O presidente rubro-negro multou o jogador e o afastou do time. Fausto fez até apelo público pelos jornais para ser perdoado, mas Padilha manteve sua decisão.

Após as eleições quando Raul Dias Gonçalves substituiu José Bastos Padilha na presidência do clube, Fausto retornou à Gávea. Numa excursão à Bahia, uma forte gripe o colocou de cama. Fausto perdia ali a oportunidade de ser chamado por Ademar Pimenta, técnico da seleção brasileira na Copa de Mundo de 38, na França.

Alguns meses depois, num treino sentiu profundo cansaço e forte dor no peito. Os dirigentes do Flamengo o aconselharam a descansar em Cambuquira, estância mineral no sul de Minas. Não admitia ficar distante do futebol e participou da equipe reserva contra o América na decisão do título da categoria. Era sua despedida dos gramados. No dia seguinte, teve uma hemoptise. Insistente, Fausto se apresentou na Gávea para treinar. Veio o desmaio e nova hemoptise. Era o início do fim.

Aconselhado pelo médico viajou para Palmira, no interior de Minas Gerais. Lá ficou internado num sanatório até às 6 horas da tarde do dia 29 de março de 1939. Nesse dia, o mundo do futebol perdia um de seus maiores expoentes. Fausto dos Santos completaria 110 no dia 28 de fevereiro de 2015.       


F 01 – Fausto, 8º em pé a partir da esquerda, no time do Bangu que venceu o Fluminense por 2 a 1, no dia 13 de março de 1928, em Álvaro Chaves.


F 02 – Time do Vasco campeão carioca de 1929: Tinoco, Brilhante, Itália, Jaguaré, Fausto e Mola; Paschoal, 84, Russinho, Mário Matos e Santana.


F 03 – Seleção brasileira antes do jogo diante da Bolívia, na Copa de 1930, no Uruguai. Fausto é o 4º em pé a partir da esquerda.

F 04 – Fausto quando defendeu o Barcelona.

 
F 05 – Num Fla x Flu, em 1936, Fausto domina a bola ao lado de Médio e observado por Romeu e Hércules.

sexta-feira, 6 de março de 2015

70 anos do "Furacão da Copa"


                                            70 anos do "Furacão da Copa"

            Em 1963, no início da carreira de locutor esportivo, tivemos a oportunidade de transmitir ao microfone da extinta e saudosa Emissora Continental, 100% esportiva e informativa, ao lado dos companheiros Batista Júnior e Moisés Medeiros Simas, nas manhãs de seguidos domingos, às 9 horas, muitos jogos da extraordinária equipe juvenil do Botafogo, na qual despontavam Mura, Zé Carlos, Adevaldo, Dimas, Arlindo, Jairzinho, Roberto, Dedé e Othon Valentim.
Desse time tricampeão estadual de juvenis (61, 62 e 63), dirigido por Paraguaio, alguns foram posteriormente titulares, destacando-se a sensacional dupla formada por Jairzinho e Roberto Miranda.
            Jair Ventura Filho empolgava desde o juvenil todos que o assistiam jogar. Driblador, veloz e com uma explosão incrível enlouquecia as defesa adversárias.
            Quando garoto participava das peladas na Rua General Severiano, onde morava, ao lado do campo do Botafogo. Quando tentava ver seus ídolos de perto, era sempre barrado pelo porteiro Doroteu. A partir do momento que passou a treinar nos juvenis, Doroteu passou a ser mais um admirador do seu futebol.
            Jair era considerado o natural substituto de Garrincha e nos anos seguintes veio a ocupar a posição de titular da ponta-direita. Com o surgimento de Rogério, outro excelente jogador, Jairzinho passou para o meio do ataque ao lado de Roberto.
            A contratação de Gerson para o lugar de Didi foi fundamental para a armação do conjunto botafoguense. No extraordinário time alvinegro, Gerson era o maestro do meio campo que com passes precisos lançava os fabulosos atacantes. Era o encaixe perfeito entre os lançamentos do “Canhotinha de Ouro” e a força e a velocidade de Jairzinho e Roberto.
            Jairzinho, uma das principais estrelas do excelente time alvinegro, conquistou o Torneio Rio-São Paulo de 1964 e 1966 e o bicampeonato estadual de1967/68.
            As grandes atuações de Jairzinho o levaram a ser convocado para a seleção brasileira. Participou do mundial de 66, na Inglaterra, e no México, em 1970. Nos gramados mexicanos, Jair foi campeão mundial e balançou as redes adversárias em todas as partidas disputadas pelo Brasil. Depois do mundial, Jairzinho recebeu o apelido de “Furacão da Copa”.
            Jair Ventura Filho, o “Furacão da Copa”, completou 70 anos no último dia 25 de dezembro de 2014. Parabéns Jair pelas suas inesquecíveis arrancadas sempre em busca do gol. Inúmeros feitos por você para a alegria da família botafoguense e da torcida brasileira.


 Na partida entre os juvenis do Botafogo e do Fluminense, Jairzinho vence a marcação de Denílson
                 Em 1968, no jogo Botafogo x América, Jairzinho salta com Rosan e Mareco
 Na final com o Vasco em 1968, Jiar e Roberto vibram com mais um gol alvinegro. O Botafogo conquistava o bicampeonato estadual.
 Na Copa do Mundo de 1966, na Inglaterra, Jair comemora, no fundo da rede, o gol de Garrincha contra a Bulgária. O Brasil venceu por 2 a 0.
          Na derrota frente a Hungria por 3 a 1, Jairzinho briga com os defensores húngaros.
 Jairzinho chuta para marcar o gol da vitória do Brasil sobre a Inglaterra por 1 a 0, na Copa do México
 Na partida diante do Peru, Jair passa por Rubiños para marcar mais um gol brasileiro na vitória por 4 a 2
 Jairzinho marca contra a Itália na final da Copa de 70, no México. O Brasil ganhou por 4 a 1
 No futebol francês ao lado de Paulo César, Jair vestiu a camisa do Olimpique de Marselha
 Jair na grande equipe do Cruzeiro na temporada de 1975: Darci, Nelinho, Moraes, Zé Carlos, Raul e Vanderlei; Roberto Batata, Eduardo, Jairzinho, Palhinha e Joãozinho 
Em 1976, Jair se sagrou campeão da Taça Libertadores da América com a equipe do Cruzeiro

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Memória do Jornalismo Esportivo II


                                Memória do Jornalismo Esportivo II
     Ari Barroso                                                                                                                                                                                                                                   O  O notável compositor Ari Evangelista de Resende Barroso, mineiro de Ubá e autor de inúmeras composições musicais de sucesso, como por exemplo, a internacionalmente conhecida Aquarela do Brasil, foi um dos mais famosos profissionais do rádio esportivo.

Em 1936, Ari realizava sua primeira transmissão esportiva ao microfone da Rádio Cruzeiro do Sul. Era a terceira partida da decisão do campeonato carioca. O empate de 1 a 1 deu ao Fluminense o título de campeão, iniciando a série do tricampeonato de 36, 37 e 38.
 
Na Rádio Tupi, Ari Barroso viveu os melhores momentos de sua carreira de locutor esportivo ao lado de José Maria Scassa. Os dois eram fervorosos rubro-negros. Ari usava uma gaitinha para anunciar os gols. Quando o time adversário atacava o seu Flamengo era comum o locutor-torcedor abandonar a narração e dizer: “Nem quero ver, nem quero ver...”
 
Ari estreou a gaitinha com o gol de Leônidas aos 25 minutos de jogo. Porém, teve que tocá-la, sem o mesmo entusiasmo, quando Hércules aos 12 minutos do 2º tempo empatou a partida. Alguns historiadores dizem que Ari usou a gaitinha pela primeira vez num jogo Vasco x São Cristóvão. 

Por falar mal do Vasco, em um de seus comentários, a diretoria do clube resolveu impedir a entrada de Ari Barroso em São Januário. Quando o Flamengo enfrentou o Vasco no campo do adversário, Ari transmitiu a partida de cima de um telhado próximo ao estádio.

O espaço onde se localizam as cabines de rádio do Estádio Mário Filho tem o nome de Ari Barroso e no hall de entrada existe um busto do homenageado. Com total justiça sua presença está perpetuada no local onde ele e seus companheiros levaram e continuam a levar emoções aos inúmeros ouvintes do rádio. Esperamos que o nome e o busto permaneçam no novo Maracanã, lembrando o eterno Ari. 

No Fla x Flu em que Ari Barroso estreou, as equipes atuaram com as seguintes escalações:

Flamengo – Raimundo, Carlos Alves, Marim, Médio, Fausto e Oto; Sá, Caldeira, Alfredo, Leônidas (Nelson) e Jarbas. 

Fluminense – Batatais, Guimarães e Machado; Marcial, Brant e Orozimbo; Mendes (Sobral), Lara, Russo (Vicentino), Romeu e Hércules. 

O árbitro do Fla x Flu foi Carlos de Oliveira Monteiro, o popular Tijolo. 

Foto 01 - Ari Barroso antes do Fla x Flu, no campo do Fluminense, no dia 27 de dezembro de 1936, ladeado pelos tricolores Nascimento e Machado, o grande Fausto dos Santos, “A Maravilha Negra” e Oduvaldo Cozzi, na função de repórter, no início de carreira.

 


Foto 02 – Em 1939, Ari transmite a partida Fluminense 2 x São Cristóvão 0, em Álvaro Chaves.

 


F 03 – Proibido de entrar em São Januário, Ari irradia a partida Vasco x Flamengo do telhado de uma casa.

 


F 04 – Ari Barroso e Antônio Maria, outro brilhante compositor e locutor esportivo, transmitindo pela Rádio Tupi, em 1950.

 


F 05 – Kanela, técnico do Flamengo, em 1950, conversa com Ari Barroso antes de um jogo da equipe rubro-negra, no Estádio da Gávea.

 

F 06 – Em 1953, Ari entregou a faixa de campeão carioca ao atacante Índio.

 


F 07 – A extraordinária cantora Ângela Maria e Ari Barroso sorriem com o tricampeonato carioca conquistado pelo Flamengo em 1955.

                                                                                                       

 

 

Índio, campeão pelo Fluminense em 1948, está com 94 anos

Índio, campeão pelo Fluminense em 1948, está com 94 anos

Índio, com a sua tradicional boina, participa do individual comandado por Ondino Viera, em 1948,

Meu amigo Bolt, grande tricolor, me passou uma mensagem lembrando que Índio, do time campeão do Torneio Municipal de 1948, é o mais velho ex jogador do Fluminense ainda vivo com os seus 94 anos. Agradecendo a lembrança do Bolt, publicamos a entrevista por nós realizada com Aloisio Soares Braga em 31 de outubro de 2007.

Acompanhado pelo prezado primo e amigo Mauro Neves, fui ao encontro do ex-são-cristovense, tricolor e botafoguense Índio, hoje com 87 anos. Na casa de sua filha, no Jardim Guanabara, na Ilha do Governador, ele contou um pouco da sua vida no futebol:
De Ramos para Figueira de Melo
“Meu nome é Aluísio Soares Braga e quando garoto morava lá em Ramos. Comecei a jogar bola no Ramos, cujo campo ficava na Rua Doutor Augusto. Comecei a bater bola ali e num terreno que havia defronte lá de casa e não saía dali. Depois passei a jogar no Alvacere, um clube fundado na Vila Alvacere. Meus irmãos jogavam lá. Meu irmão Rogério que jogava no Botafogo, quando tinha uma folga visitava os nossos pais e ia jogar lá. Meus outros dois irmãos também jogavam no Alvacere. A família toda brincava bem.
O time do Alvacere era bom. Disputava os campeonatos de pelada. Eu cresci participando de tudo isso, até que fui para o São Cristóvão. Quem me levou foi um torcedor fanático do Alvacere chamado Anísio. Já deve ter morrido há duzentos anos. Ele já era velho quando eu era garoto. Treinei no time de reservas. O treinador era o Roberto Cunha, aquele ponta-direita da Copa de 38. Quando terminou o treino ele me chamou para assinar contrato. Não trabalhava em nada e para mim foi bom, porque meu negócio era jogar futebol.
No São Cristóvão, encontrei Nestor, Magalhães, Louro, Mundinho. Cheguei a formar a zaga com Mundinho. Joguei também com Neca, que era o meia-direita, e João Pinto de centroavante. O time era muito bom.”
O apelido e a ida para o Fluminense
O apelido de índio surgiu no São Cristóvão. Comecei a jogar e eles passaram a me chamar de Índio. Sou carioca, nascido em Botafogo, e minha avó era índia.
Quando saí do São Cristóvão fui para o Fluminense. Eu tinha um alfaiate que era tricolor doente e aí ele falou com alguém que me indicou para o Fluminense. O treinador era o Ondino Viera. Lá joguei com Orlando, Rodrigues, Castilho, Píndaro, Pinheiro, Bigode, Simões.
Em 1948, no campo do Botafogo, decidimos o título do Torneio Municipal com o Vasco. O Flávio Costa colocou o time completo, o “Expresso da Vitória”, que tinha sido campeão dos campeões, no Chile. O Ondino nos falou:
“Não é o “Expressinho, é o time titular do Vasco. Vamos lá jogar o nosso futebol”. Nosso time era armadinho e fomos para o campo enfrentar o “Expresso da Vitória” que o Flávio escalou para não perder a chance de ser campeão.
Orlando fez o gol de bicicleta. O Vasco partiu pra cima, mas deu para eles não. Castilho fechou o gol. Falaram na época que os jogadores do “Expressinho” torceram por nós. Eles queriam jogar e na hora do jogo foram barrados.
A chegada a General Severiano

Fiquei no Fluminense dois anos, 1948 e 49, e em 50 fui para o Botafogo. O time era praticamente o mesmo do campeonato de 48. Eu fui para jogar no lugar do Gerson que fugiu para Colômbia, indo jogar na tal liga pirata. Joguei muitas vezes de beque central, formando o trio com Osvaldo “Baliza” e Nilton Santos. Nilton era um cracão de bola. Sabia jogar, jogava muito. Ele jogava de beque esquerdo, marcando o ponta. Dominava e saía jogando. Não chutava pra o alto, sabia jogar demais. Ele jogou muita bola e era fácil jogar com ele. Eu de beque central ali cobria a área.
Eu jogava de boina ou de gorro porque meu cabelo era grande e caía nos olhos. Se eu não usasse, começava o jogo e em pouco tempo não enxergava nada.
A volta ao ninho antigo
No Botafogo, o técnico ainda era o Zezé Moreira. Quando eu saí, voltei para o São Cristóvão. Depois fui encerrar praticamente no Tupi, de Juiz de Fora. Ao retornar novamente ao São Cristóvão, joguei algumas vezes e fiquei como técnico. O time tinha bons jogadores, como Hélio, Humberto Tozzi, Ivan, Cabo Frio. Haroldo, campeão pelo Fluminense, em 46, e Neném estavam parados e eu os levei pra lá.
Eu parei no futebol de campo, mas continuei jogando futebol de salão. Como eu morava em Ramos fui jogar no Paranhos. Para mim era uma cachaça, não podia ficar sem jogar futebol.
Comecei a jogar de lateral direito. No São Cristóvão, o Picabéa me colocou de beque central. No Fluminense, passei a jogar de half direito e formei uma linha média com Pé de Valsa e Bigode. A defesa jogou muitas vezes com Castilho, Píndaro e Pinheiro, eu, Pé de Valsa e Bigode. O Píndaro marcava o ponta por um lado e o Bigode por outro. Eu jogava apoiando.
Cheguei a jogar na seleção carioca. Mas tinha muita política. Jogava quem os dirigentes gostavam.
Família botafoguense e boa de bola

Minhas referências no futebol foram meus irmãos. Rogério, bom de bola, era do Botafogo. A família inteira torcia pelo Botafogo. Osvaldo e Waldemar jogavam bem. O primeiro era center half e o outro lateral direito. Osvaldo jogava uma barbaridade, mas nunca quis sair do Alvacere. Recebeu convites de vários clubes, inclusive meu irmão Rogério quis levá-lo para o Botafogo e ele disse não.
Os craques inesquecíveis

Como beque central sempre achei o Domingos da Guia uma barbaridade. Está para aparecer outro igual. Não era chutador pra frente. Sabia roubar uma bola, sair driblando. Norival também foi um tremendo beque central. Na minha época tinha uma porção de atacantes que eram difíceis de marcar. Joguei contra o Ademir e era difícil marcar porque ele se mexia muito em campo. Didi era cabeça, cracão de bola. Zizinho era o “Mestre Ziza”. Jogava demais. Era outro ruim de marcar. Hoje é difícil você encontrar um Didi, um Zizinho.  Tá ruim aparecer um cara que saiba armar no meio de campo.
Dois goleiros me transmitiam tranquilidade: Castilho, no Fluminense, e Louro, no São Cristóvão. O negrão quando saía se você estivesse na frente ele atropelava. Agora, cracão no gol era o Castilho. Jogava uma barbaridade. Tinha sua sortezinha... O cara que não tiver sorte, não adianta.
Ondino Viera foi um grande treinador. Picabéa foi um grande treinador também. Outro bom técnico foi o Ademar Pimenta. Ele que me lançou no time.
Hoje, os times estão horrorosos
Tive e tenho a vontade de voltar a ser treinador, mas a idade não permite. Voltar para morrer no futebol. Por que? Eu modificaria muita coisa no futebol. Vejo muita coisa que não é possível. Os times cariocas estão horrorosos. Uma porção de gente nova jogando, mas sem técnica. As faltas se sucedem sem necessidade. Uma porção de jogador metido a malandro. Qualquer esbarrão é motivo para o cara se jogar e o pior é que os árbitros estão entrando nessa. Predomina a malandragem e uma porção de otário está caindo nessa.
Não fui farrista, gosto de mulher e samba
A preparação física sempre existiu, especialmente, para o jogador que gostava de treinar. Eu, por exemplo, dava no mínimo dez voltas em torno do campo do São Cristóvão. Não queria ir para campo fazer palhaçada para os outros. Ia para jogar e corria durante os noventa minutos. Nunca fui farrista, não bebo e não fumo até hoje. Estou com 87 anos, uso marca passo e não ter bebido e fumado me mantém vivo.
Meu fraco sempre foi mulher que não atrapalha. Adoro mulher. O que atrapalha é beber e fumar. Na minha época tinham muitos boêmios. Jogador de clube pequeno não tinha dinheiro para gastar.
Sempre gostei de samba. Sou fundador da Imperatriz Leopoldinense. Onde eu morava tinha o Bloco Unidos do Itararé. Saía no bloco de sujo de dia e de noite desfilava na Imperatriz. Samba era comigo.
Eu era também compositor da Imperatriz. Mas, nunca corri atrás. Se quiser canta, se não quiser não canta. O meu negócio era me divertir.
Os árbitros de hoje são uma vergonha
Os árbitros não pegavam no meu pé. Hoje não existe nenhum igual ao Mário Vianna, ao Malcher, ao Peixoto. Eram severos. Mário, quando eu dava uma entrada mais forte, dizia:
“Na próxima vai pra rua”. Eu respondia: você não está vendo que fulando está batendo firme. Ele falava: ”Não quero saber, se der outra vai pra rua”. Hoje, esses caras apitando, é uma vergonha.
Minha família sempre me ajudou. Meus pais, meus irmãos. Sou o caçula e tenho 87. Veja você o mais velho. Tem duzentos anos. Hoje, tenho netos e bisnetos”.

 
Time do Fluminense que venceu o Moto Clube por 2 a 1, em São Luiz: Índio, Pé de Valsa, Mário, Píndaro, Castilho, Hélvio e Ondino Viera; 109, Santo Cristo, Simões, Orlando e Rodrigues.
 
No dia 23 de maio, o Fla x Flu pelo Torneio Municipal terminou com o empate de 1 a 1. Equipe do Fluminense antes da partida: Hélvio, Tarzan, Pé de Valsa, Índio, Mirim e Bigode; 109, Careca, Rubinho, Emílio e Rodrigues.
 
 
Após a vitória sobre o "Expresso da Vitória" e a conquista do Torneio Municipal de 1948, em General Severiano, Índio abraça seu companheiro Castilho.
Índio observa a defesa de Tarzan na partida em que o Fluminense goleou o Olaria por 8 a 2, na Rua Bariri, no campeonato carioca de 1948.
 
Swindin, Mister Barrick e Índio antes da partida Fluminense e Arsenal, em 1949, no campo do Vasco. Os ingleses venceram por 5 a 1.
 
Índio, Pé de Valsa e Bigode formaram a intermediária tricolor na temporada de 1949.
 
Em dezembro de 1949, Índio observa a troca de flâmulas entre Ivan Raposo, chefe da delegação do Fluminense, e César About, presidente do Moto Clube de São Luiz. O Fluminense venceu por 2 a 0. gols de Simões e Orlando.


 

Camisa 10 ou camisa 8?


     Camisa 10 ou camisa 8?

Ouço e leio com frequência os companheiros falarem e escreverem que falta nos clubes e na seleção brasileira um camisa 10. Enfim, para eles não temos um camisa 10 no futebol brasileiro. Que camisa 10 é esse?
Se os companheiros estão se referindo ao chamado meia armador de grande capacidade de criação, com qualidade de passe e alta precisão nos lançamentos longos estão equivocados.
Nos tempos do sistema WM, jogava-se com dois meias armadores, um pela direita e outro pela esquerda. Desde 1947, com o uso da numeração nas camisas, de 1 a 11 do goleiro ao ponta-esquerda, para felicidade dos narradores esportivos, o meia-direita vestia a camisa 8 e o meia esquerda a camisa 10.
A seleção brasileira no sul-americano de 1949 e na Copa do Mundo de 1950 possuía dois extraordinários meias: Zizinho 8 e Jair Rosa Pinto 10. A dinastia da camisa 8 começou com o Mestre Ziza e continuou a ser usada por seus herdeiros Didi e Gerson. Na Copa de 1958, Didi atuou com o número 6. Na Copa de 1962, no Chile, Didi vestiu a camisa 8.
No final da década de 40 e início dos anos 50, Jair usava a camisa 10, porque Zizinho era o dono da camisa 8. No Santos, o Jajá de Barra Mansa atuava com a 8, porque a 10 passou a ser de Pelé.
Esses monstros sagrados nos encantaram, durante décadas, com passes e lançamentos precisos e extraordinária visão de jogo.  Eles eram os cérebros dos seus times. Todos vestiram a camisa 8.
Em vários times a camisa 8 vestia os meias armadores, muitos ídolos de suas torcidas. Zizinho, no Flamengo e no Bangu, Geninho, no Botafogo, Luizinho, no Corinthians, Rubens, o Dr. Rubis, no Flamengo e na Portuguesa de Desportos, Didi, no Fluminense e no Botafogo, Gerson, no Flamengo e no Botafogo, Neca, no São Paulo, no São Cristóvão e na Portuguesa carioca, Walter Marciano, no Santos e no Vasco.
Na metade dos anos 50 surgiu no futebol brasileiro o maior jogador de todos os tempos: Pelé. Ele tomou conta da camisa 10 e a consagrou mundialmente. A partir daí a camisa 10 passou a ser usada pelo principal craque em alguns times, sendo usada indistintamente por armadores e atacantes.
Assim aconteceu com Zico, no Flamengo, Roberto, no Vasco, Dirceu Lopes, no Cruzeiro, Ademir da Guia, no Palmeiras, Rivelino, no Fluminense. Atualmente, o habilidoso Paulo Henrique Ganso, no São Paulo, e o veterano Alex, no Coritiba, jogam com a 10.
Mesmo com a total desordem na numeração dos jogadores, agora para infelicidade dos narradores esportivos, a camisa 10 ainda é usada pela maior parte dos craques nos clubes e nas seleções. É o caso de Messi, no Barcelona e na seleção Argentina e do nosso Neymar no selecionado brasileiro.
            Portanto quando se afirma que a maioria das equipes precisa de um camisa 10 é porque necessita de um jogador diferenciado, líder, organizador do meio campo, sem esquecer, historicamente, dos eternos mestres donos da camisa 8.
F 01 – Zizinho, o árbitro Gimenez Molina e Maneco antes da partida Bangu e América, no campeonato carioca de 1951.
 

F 02 – Didi ouve o hino nacional brasileiro após a final da Copa de 1962, no Estádio Nacional de Santiago, quando o Brasil derrotou a Tchecoslováquia por 3 a 1.
 

F 03 – Gerson, o nosso “canhotinha de ouro”, na Copa de 70, no México.

 
F 04 – Equipe do Botafogo campeã carioca de 1948: Zezé Moreira, Rubinho, Nilton Santos, Osvaldo Baliza, Gerson, Ávila, Juvenal e o Doutor Paes Barreto; Paraguaio, Geninho, Pirilo, Otávio com o Biriba e Braguinha.
 

F 05 – Linha atacante do Corinthians, na década de 60: Marcos, Luizinho, Silva, Flávio e Gilson Porto.
 

F 06 – Rubens Josué da Costa, o Doutor Rúbis, quando vestiu a camisa do Flamengo.

 
F 07 – Uma das formações do Vasco que disputou o campeonato carioca de 1955: Hélio, Paulinho, Haroldo, Maneca, Orlando e Dario; Sabará, Valter Marciano, Vavá, Pinga e Silvio Parodi.

 
F 08 – Time do São Cristóvão em 1947: Mundinho, Santamaria, Índio, Souza, Florindo e Louro; Cidinho, Neca, Eólio, Nestor e Magalhães.