segunda-feira, 22 de setembro de 2014

100 anos de seleção brasileira

                  100 anos da seleção brasileira                                                  
  
                As seleções do Rio de Janeiro e de São Paulo, principais centros futebolísticos do país, passaram a se enfrentar nos idos de 1906. Quando os paulistas derrotaram os cariocas por 4 a 0, os vencedores estimulados com o resultado aproveitaram a presença de uma equipe sul-africana na cidade para acertar um amistoso.
                Desfalcada de alguns de seus melhores jogadores, devido a uma divergência entre a Associação Athlética Palmeiras e a Liga Paulista, a seleção paulista perdeu para o South Africa FC por 6 a 0.
                Várias partidas amistosas foram realizadas por clubes, seleções estaduais contra combinados e equipes estrangeiros. O centro das disputas pelo comando do futebol se localizava nas cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo.
                Na capital bandeirante, o Paulistano e outros clubes criaram a Associação Paulista de Esportes Athléticos contrapondo-se a Liga Paulista de Foot-Ball. As duas entidades guerrearam para ver quem teria a primazia de fundar a primeira entidade nacional.
                No Rio, a Liga Metropolitana de Sports Athléticos, com o apoio da APEA, criou a Federação Brasileira de Sports, no dia 8 de junho de 1914. Nessa mesma reunião, foram criados O Comitê Olímpico Brasileiro e a Federação Brasileira de Sports Terrestres.
                Em julho chegava ao Brasil, vindo da Argentina, o Exceter City FC, da 3ª divisão profissional inglesa. A presença de um time da terra dos inventores do futebol movimentou a cidade. Muitos torcedores se aglomeravam em frente ao Hotel dos Estrangeiros, na Rua Senador Vergueiro com a Praça José de Alencar, onde estava a delegação inglesa, para ver os jogadores.
                O Exceter City tinha derrotado um combinado de jogadores ingleses que defendiam clubes cariocas por 3 a 0 e venceu a seleção carioca por 5 a 3. Os bons resultados conseguidos pelos ingleses aumentaram a expectativa para a partida programada diante da seleção brasileira.
                A Federação Brasileira de Sports convocou os melhores jogadores cariocas e paulistas. Destacavam-se Marcos Carneiro de Mendonça, Friedenreich, Abelardo Delamare, Rubens Sales, Sylvio Lagreca. Estava formada a primeira seleção brasileira de futebol.
                No dia 21 de julho de 1914, há cem anos, mais de 5 mil expectadores lotaram o campo na Rua das Laranjeiras. Aos 15 minutos de jogo, o tricolor Osvaldo Gomes balançou a rede inglesa. Ainda no 1º tempo, aos 30 minutos, Osman fechava o placar: Brasil 2 x Exceter City 0.
                A técnica dos brasileiros surpreendeu os profissionais do Exceter City que, em alguns momentos do jogo, apelaram para a violência. Rubens Sales levou forte pancada nas costelas e Friedenreich perdeu dois dentes.
                Alguns jogadores ingleses ameaçaram abandonar o campo, inconformados com a superioridade da seleção brasileira. Mas foram contidos pelo capitão da equipe.
                Marcos (Fluminense), Píndaro (Flamengo) e Nery (Flamengo); Lagreca (A.A.São Bento – SP), Rubens Sales (CA Paulistano – SP) e Rolando (Botafogo); Osvaldo Gomes (Fluminense), Abelardo (Botafogo), Friedenreich (CA Ipiranga), Osman (América) e Formiga (CA Ipiranga) formaram a primeira seleção de futebol do Brasil.
                               Cartaz que anunciava os jogos do Exeter City no Rio de Janeiro                 
 
Seleção brasileira antes da partida com o Exeter City: Píndaro, Marcos e Nery; Lagreca, Rubens Salles e Rolando; Osvaldo Gomes, Abelardo, Friedenreich, Osman e Formiga.

                        Lance do primeiro jogo da seleção brasileira, no campo do Fluminense

domingo, 21 de setembro de 2014

100 anos de Brasil x Argentina


                                             100 anos de Brasil x Argentina                                                                                        
                    As seleções dos dois maiores centros futebolísticos da América do Sul passaram a se enfrentar em 1914. No dia 15 de setembro de 1913, o ex-presidente da Argentina General Julio Argentino Roca decidiu oferecer um troféu a ser disputado entre as seleções da Argentina e do Brasil. O objetivo era fortalecer os laços esportivos entre os dois países. A Copa Roca tinha a seguinte inscrição:

                                                                              Copa Roca

            Instituida por El general Julio A. Roca para ser disputada entre brasileños e argentinos

                                                                                   1913

                Em julho de 1914, após a vitória de 2 a 0 sobre o Exeter City o Brasil passou a ter uma seleção, podendo aceitar o convite para a disputa da Copa Roca. O primeiro jogo entre argentinos e brasileiros ficou marcado para o dia 20 de setembro.

                Após a convocação da seleção brasileira, com o aproveitamento de muitos jogadores que venceram o Exeter City, a delegação nacional embarcou no navio Alcântara. A chegada a Buenos Aires estava prevista para sábado, dia 19, véspera do jogo. O mau tempo atrasou a viagem, obrigando o Alcântara a fazer escala em Montevidéu. Com o atraso, os brasileiros somente chegaram a capital da Argentina às 9 horas do dia 20 de setembro, data marcada para a realização do jogo.

                Marcos Carneiro de Mendonça, goleiro da nossa seleção, nos contou alguns fatos sobre a viagem e a estada da delegação brasileira em Buenos Aires:

“Em 1914, fomos para Buenos Aires disputar a Copa Roca. Chegamos lá atrasados. Deveríamos realizar o jogo no domingo. Os argentinos  gentilmente, como havia caído um temporal na nossa chegada, na véspera do jogo, realizaram conosco dois amistosos. Perdemos o primeiro por 3 a 0 e vencemos o segundo por 3 a 1.

 Jogamos a Copa Roca uma semana depois de jogarmos, já tendo tido dois treinos. Vencemos por 1 a 0, gol de Rubens Sales, nos primeiros quatorze minutos”.

Finalmente, após a realização dos dois amistosos, como nos falou Marcos Carneiro de Mendonça, os jogadores já estavam descansados e preparados para a disputa da Copa Roca.

No dia 27 de setembro de 1914, o Estádio do Gimnasia y Esgrima recebeu um público de 17 200 expectadores. O grande ausente foi exatamente o idealizador da Copa Roca, o general Julio Argentino Roca, que se encontrava enfermo.

Sob a arbitragem do brasileiro Alberto Borgerth, as seleções da Argentina e do Brasil iniciaram a partida com as seguintes escalações:

Argentina – Rithner (Porteño), Bernasconi (Estudiantes de La Plata) e Lanús (Estudiantes de La Plata); Naon (Estudiantes de La Plata), Sande (Independiente) e Sayanes (Gimnasia y Esgrima); Lamas (Estudiantes de La Plata), Leonardi (Estudiantes de La Plata), Piaggio (Porteño), Izaguirre (Porteño) e Crespo (Tigre).

Brasil – Marcos (Fluminense), Píndaro (Flamengo) e Nery (Flamengo); Rubens Salles (Paulistano), Lagreca (AA São Bento) e Mário Pernambuco (Fluminense); Millon (Paulistano), Osvaldo Gomes (Fluminense), Friedenreich (Ypiranga), Bartholomeu (Fluminense) e Arnaldo (Paulistano).

Rubens Salles marcou o gol brasileiro aos 13 minutos depois de uma rebatida de Sayanes. Dominou a bola e chutou cruzado, a meia altura, sem chance para Rithner. Brasil 1 x Argentina 0.

 

                  A Copa Roca cujo primeiro vencedor foi a seleção brasileira.
 

Jogadores da seleção brasileira no convés do navio Alcântara. A partir da esquerda, em pé Lagreca, Píndaro, Lagreca, Marcos, Nery, Mário Pernambuco e Joaquim de Souza Ribeiro (dirigente); Millon, Osvaldo Gomes, Barthô, Freidenreich e Arnaldo.
 

 
         Torcedores se dirigem ao estádio do Gimnasia y Esgrima local da partida Argentina e Brasil válida pela Copa Roca

terça-feira, 9 de setembro de 2014

80 anos de Waldo, o maior artilheiro tricolor


                                 80 anos de Waldo, o maior artilheiro tricolor                                        

Hoje, dia 10 de setembro de 2014, completa 80 anos de vida Waldo Machado da Silva, o maior artilheiro da história do Fluminense. Vamos homenageá-lo apresentando um pouco de sua brilhante carreira e lembrar alguns de seus incríveis gols.

Waldo Machado da Silva começou a jogar bola, como tantos outros meninos, nas peladas de rua e na praia, em Niterói, onde nasceu no bairro do Barreto. Calçou seu primeiro par de chuteiras aos 16 anos, defendendo o Fluminense de Niterói.

O artilheiro que veio do outro lado da baía

Do outro lado da Baía da Guanabara, nas Laranjeiras, o titular do time do Fluminense dirigido por Zezé Moreira era Marinho. Waldo recém-chegado ao clube esperava uma oportunidade. E ela surgiu, quando Zezé sem poder contar com Marinho que estava contundido, escalou Waldo.

Na época, muitos afirmavam que Waldo custara ao Fluminense o preço de uma passagem Niterói-Rio. No início, os gols marcados eram poucos e os perdidos eram muitos. Os críticos e os torcedores viam no jovem atacante mais um “bonde”, que na linguagem do futebol é o jogador sem habilidade, sem técnica.

Com os gols veio o desabafo

Reservado, Waldo não ria, ou melhor, ria pouco. Com esse seu jeito deu tempo ao tempo. Quando os gols começaram a surgir, o atacante declarou:

“Chegou a minha vez. A sorte está do meu lado e torço para que ela fique igual a modinha: daqui ninguém me tira. A gente pode aprender tudo. A chutar, a escolher o canto, a enganar o beque, o goleiro, a se colocar bem, a entrar na hora “h”. A verdade é que com azar não há nada que faça a bola entrar. O que eu tinha era azar, porque fazer, eu sabia. Não posso negar que aprendi muito com Seu Pirilo.”

Os incríveis gols de Waldo

No campeonato carioca de 1956, o Fluminense terminou em segundo lugar e Waldo liderou a artilharia com 22 gols. Coincidência ou não, nessa temporada o técnico do artilheiro era Silvio Pirilo, que quando jogador atuava de centroavante e era exímio artilheiro.

Sua carreira atingiu o auge no Rio-São Paulo de 1957. Waldo fez gols incríveis contra o Palmeiras, Corinthians, São Paulo. Após o título invicto do torneio, nas três temporadas seguintes Waldo continuou a marcar, sendo importante nas conquistas  do campeonato carioca de 1959 e do Torneio Rio-São Paulo de 1960.

O chute forte com o pé esquerdo ou direito, a coragem e não acreditar em bola perdida fizeram de Waldo uma constante preocupação para as defesas adversárias.  

No campeonato carioca de 1955, o Bonsucesso estava invicto. Em Teixeira de Castro, Fluminense e Bonsucesso se enfrentavam num jogo duríssimo, quando o goleiro Julião ao praticar a defesa ouviu o trilar de um apito vindo da arquibancada. Colocou a bola no chão para bater a possível falta marcada pelo árbitro. Waldo, atento ao lance, se aproximou e tocou a bola para dentro da meta rubro-anil.

Bibi, zagueiro do Bonsucesso, que participou da partida nos falou sobre o lance:

“Aqui, em Teixeira de Castro, perdemos de 1 a 0 para o Fluminense. Vou contar o que aconteceu. O juiz era o inglês Mister Barrick. Eu chutei três bolas impossíveis e o Veludo defendeu. Aqui, o estádio estava botando gente pelo ladrão. A partir de 1 hora, não entrava mais ninguém. Jogo duro, Bonsucesso invicto. Numa jogava pela lateral esquerda do Fluminense, eu estava marcando o Escurinho, que corria muito. Colocaram uma bola na frente e eu não consegui pegar o Escurinho. Ele cruzou na altura da marca do pênalti e o Julião abafou. Mas, atrás do gol apitaram. Aí, o Julião colocou a bola na marca do pênalti. Eu corri e gritei: não Julião, não Julião!  O Waldo veio, tocou e fez o gol. Eu tinha esta sequência toda do gol no jornal Última Hora. A bola foi entrando, eu querendo salvar e não consegui.

Daí o jogo ficou parado 40 minutos, por causa deste gol. Nós reclamamos, porque na hora do gol, o juiz estava de costas. Eu até me aborreci com o falecido Telê, que ficou zombando pela perda da invencibilidade do Bonsucesso. Para ganhar da gente, não era mole não. Aqui todos tremiam Flamengo, Vasco, Botafogo.

 Discutimos e como ele morava também na Vila da Penha, eu disse que o pegaria no outro dia na Vila da Penha. Resolvi ir ao vestiário do Fluminense para pegá-lo e fui preso. Quem me prendeu foi o delegado José Gomes Sobrinho, que era também árbitro de futebol”.

A carreira de Waldo ficou marcada pela autoria de gols incríveis. Foram vítimas do grande artilheiro o Corinthians, Palmeiras, São Paulo e outros clubes.

A ida para a Espanha

Em 1961, quando deixou o Fluminense para jogar no Valência, da Espanha, Waldo havia atingido o total de 314 gols, sendo o maior artilheiro da história do tricolor.

Há dois anos, Waldo esteve no Rio de Janeiro trazido pelo querido amigo e grande tricolor Valterson Botelho, autor da biografia do artilheiro. No Hotel Flórida, localizado na Rua Ferreira Viana, no Catete, tivemos a oportunidade de conversar com o ex-jogador e lembrar grandes momentos de sua brilhante carreira. Pudemos sentir a emoção de Waldo ao relembrar suas inesquecíveis conquistas com a camisa do Fluminense.   


Estivemos no lançamento da biografia de Waldo, na sede do Fluminense. Waldo, José Rezende e Valterson Botelho

Depois da vitória sobre o Corinthians por 3 a 2, no Rio-São Paulo de 1957, Waldo recebe o abraço do grande tricolor Benício Ferreira Filho
 
 
Waldo e seu professor Silvio Pirilo após a conquista do título do Rio-São Paulo de 1957
 
O extraordinário artilheiro recebe a faixa de campeão do Torneio Rio-São Paulo de 1957
 
Waldo festejado por suas grandes atuações no Rio-São Paulo
 
 
A revista Manchete Esportiva reconheceu a decisiva participação de Waldo para a conquista do título  do Torneio Rio-São Paulo de 1957
 
Entre Castilho e Altair, Waldo dá a volta olímpica após de sagrar campeão carioca de 1959
 
Incríveis gols de Waldo
 
 
Quando Julião, goleiro do Bonsucesso, ouviu o som do apito vindo da arquibancada e colocou a bola no chão, Waldo se aproximou e fez o gol: Fluminense 1 x Bonsucesso 0
 
 
Na Rua Bariri, contra o Olaria, nem a trave parou Waldo
 
 
Na partida Fluminense e Corinthians, no Rio-São Paulo de 1957, Aldo quicava a bola. Waldo se aproximou e tirou-a do goleiro. Contornou o bico da grande área e com a meta vazia deu a vitória ao Fluminense
 
 
No campeonato carioca de 1956, o Fluminense goleou o Bangu por 5 a 0. Waldo arrancou do meio de campo e para desespero de Nadinho e Darci Faria marcou o 4o gol
 
 
No jogo entre Fluminense 2 x São Paulo 1, no encerramento do Torneio Rio-São Paulo, Waldo disputou a bola com o goleiro Waldemar e fez o gol da vitória
 
 
Sequência do gol contra o Palmeiras, no Torneio Rio-São Paulo de 1957
 
 
Waldo, a bola e a rede. Pose de artilheiro